terça-feira, 17 de junho de 2014

Leite Materno vs. Leite Artificial

O meu filho toma leite artificial (LA) desde que nasceu! Pois é, eu fui abençoada com duas tetas, mas as pobres coitadas calharam numas mamas muito pouco produtivas. Nos primeiros dias, no hospital, portanto, as enfermeiras bem tentavam espremer de um lado e de outro, mas saía muito pouco. O coitadinho, esganado de fome, esgoelava-se a berrar porque já não lhe bastava ainda estar a aprender a arte de mamar, como ainda tinha de haver pouca quantidade, só para lhe dificultar a vida.
Logo no primeiro dia, vendo o sofrimento dele e o meu desespero, as enfermeiras deram-lhe logo LA, sempre depois de o obrigarmos primeiro a mamar um bocadinho.
Viemos para casa e as instruções médicas eram simples: a criança não ia sofrer de fome se não havia justificação para isso e se estava visto que eu não seria grande produtora de leite. Portanto, dar Leite Materno (LM) sempre, em primeiro lugar, mas dar sempre o biberão, para o saciar. A verdade é que ele mamava nas duas mamas e mesmo assim devorava o biberão, de seguida, em segundos.

Ao fim de um mês neste sistema, o leite foi secando. Confesso que tinha aquela ideia super romântica acerca de amamentar um bebé, o meu bebé. Queria muito fazê-lo e não me importava, nem me importo (!) com as questões estéticas. Mas já ia mentalizada de que podia assim não ser. A minha avó materna não teve leite, a minha mãe também não. Seria provável que eu tivesse pouco também. Mas isso, apesar de tudo, foi uma desilusão. Principalmente porque a primeira experiência de amamentação, e as seguintes, foram uma tortura!!!

Como ele não pegava na mama (pudera, não lhe saía nada!), as enfermeiras e auxiliares vinham ajudar e era cada uma a espremer, literalmente, a minha mama, para o ajudar. Ora vamos lá ver, meus amigos: sair de uma cesariana, estar toda rebentada e cosida, chegar e ser espremida por todos os lados, ainda não podendo reagir (fiquei 24h deitada), não é propriamente agradável. Não. Doeu e doeu que se fartou. E doeu em todos os sentidos: no físico, porque aquilo literalmente rebentava comigo; mas partia-me o coração ver o meu bebé, tão pequenino e indefeso, berrar desalmadamente de fome, sem eu naturalmente o poder saciar.

Mas não foi um drama. Havia solução e resolveu-se. Com fome é que ele não ficou, vos garanto! E mais, no dia da visita a casa da enfermeira, ela ainda mandou uns bitaites, que não tinha nada que lhe dar suplemento. Oi?! Então eu venho do hospital, com ordens médicas, da pediatra, para lhe dar o biberão, e vem-me a fulana dizer que não posso?! Mas e quê, ia deixar o rapaz morrer de fome? 

Qual é o problema disto? Pois, o mal está na generalização. Há muitas mulheres que não dão de mamar, porque apenas não o querem fazer. Não concordo minimamente com isso, principalmente se for por razões estéticas. Mas isso sou eu. Acho um ato de egoísmo, mas não sou ninguém para julgar. Acredito e defendo que os bebés devem tomar LM sempre que isso for possível. Mas se não for, então não se vai andar a insistir com o desgraçado, só porque sim, porque parece mal não dar de mamar. Não. 
Eu faço parte de um grupo de mães no facebook, cujos bebés nasceram mais ou menos na mesma altura. E a amamentação e um tema quase tabu. Quando surge alguma a afirmar que, por algum motivo, está a pensar dar suplemento (mesmo que, no caso, mantenha o LM) ao bebé, vêm logo todas em coro dizer que não, que não vale a pena. Que a mama chega. E que leite de mãe é sempre bom. E suficiente. E cura os males deste mundo e do outro. Isso irrita-me.

Cada caso é um caso. E cada um é como cada qual. Não somos ninguém para julgar os outros e, principalmente, opinar em relação aos filhos dos outros. Há crianças que não se satisfazem só com. Mesmo que mamem muito. Há mães que pura e simplesmente não têm leite. E, minha gente, para isso é que foram criados leites artificiais, para que nenhum bebé morresse por falta de alimento. 
Mas acho que, algures na nossa sociedade, se incutiu a ideia fixa e indiscutível de que a amamentação é uma obrigação, seja em que condições for, e que a mãe tem mais é de fazer os possíveis e impossíveis para a criança se saciar com a mama. Mas isso não funciona, nem pode funcionar, dessa forma. A vida não é preto e branco… Nem acho que uma mulher deva amamentar obrigada, contrariada. Não é bom para ela nem para a criança. Amamentar deve ser uma ato de amor, de afecto e cumplicidade. Não uma obrigação, uma tarefa.

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