domingo, 19 de janeiro de 2014

Co-adopção

Quanto mais nos tentamos convencer de que somos um país aberto, solidário, em franca mudança de mentalidades, mais criamos razões que nos contradizem.

Primeiro foi o casamento homossexual. Um drama, um preconceito pegado, acesas discussões pelos motivos errados.
Agora a co-adopção. E o problema é sempre o mesmo. A sociedade portuguesa nem sequer sabe sobre o que vai opinar porque, para a maioria das pessoas, que não entendem leis nem esses conceitos jurídicos, até porque não têm de o fazer e ninguém se deu ao trabalho de esclarecer devidamente, a co-adopção é a adopção por casais homossexuais, ponto.
Daí que se assistam nos cafés, parques, à porta de igrejas, nas filas do talho ou das finanças, às conversas mais estapafúrdias possíveis. Porque as pessoas não sabem do que falam. E se disso em certa parte não têm muita culpa, já o têm por, mesmo desconhecendo o tema, terem convicções tão profundas e correctas sobre o mesmo.

Eu confesso. Eu sou uma mente aberta e que tenta adaptar-se aos novos tempos. Mas não nego que há muitas coisas que ainda me fazem uma espécie de confusão, muito possivelmente porque no meio onde me insiro nunca fui obrigada a lidar nem ver certas coisas. Como casais homossexuais. Respeito imenso, não tenho nada contra, mas confesso que me intriga um pouco o conceito e talvez porque nunca conheci nenhum, nunca conversei com nenhum… Mas não é por isso que não lhes reconheço a existência e que deixo de lhes reconhecer direitos essenciais. Que a palavra casamento me intriga e me choca um bocadinho, vá, ok, admito. Mas continuo a entender que era preciso criar um qualquer instituto jurídico que os protegesse legalmente, porque é disso que o casamento se trata, do reconhecimento legal de uma união estável, duradoura, com a qual as partes se quiseram comprometer.

Se me faz confusão uma criança ser criada por dois homens ou duas mulheres? Um pouco. Não por serem dois do mesmo sexo mas por serem um casal, ambos a assumir a mesma figura paternal ou maternal. Se acredito que essa criança possa ser ostracizada? Mas não foi a semana passada que um adolescente de 15 anos se suicidou por sofrer bullyng, mesmo sendo filho de um casal "normal?


Agora,
1.º: as crianças são cruéis por qualquer motivo, ora porque aquele é gordo demais, alto demais, baixo demais, magro demais, porque fala pouco, porque fala muito, porque é preto, porque é amarelo… Não me parece que os putos estejam ansiosos à espera de mais um argumento.

2.º: aquelas crianças a quem se destina esta lei já têm, repito, JÁ TÊM dois pais ou duas mães porque a realidade delas já é serem criadas por um casal homossexual. Nada vai mudar na vida delas, na cabeça delas, no ambiente delas. Bem, mudará a certidão de nascimento, em que a segunda figura parental será reconhecida legalmente, o que até agora não acontece!

3.º: esta lei destina-se a proteger as crianças que foram adoptadas ou concebidas por apenas um dos elementos do casal em caso de morte desse elemento. Porque à morte dele, o companheiro/a é um perfeito estranho em termos legais para a criança, o que implica que a criança, que sempre viveu com o casal, perdendo um deles pela morte perderá necessariamente o outro, que não tem quaisquer direitos parentais! Tendo em conta que muitas destas crianças foram adoptadas e já provêm de lares desfeitos, será demasiado agressivo permitir essa nova tragédia familiar…

Por todos esses motivos e por muitos mais, sobre os quais passaria aqui a tarde a discorrer, eu apoio o co-adopção em Portugal. E tenho pena que este assunto não esteja suficientemente difundido e esclarecido para que todos pudessem dar uma opinião consciente e responsável.

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